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Agradeço a todos os que, de muitas maneiras, prepararam e participaram neste encontro de Bolonha, à luz do espírito de Assis, entrelaçando diálogo, oração, amizade. Agradeço a Bolonha, e ao seu Arcebispo, pelo acolhimento amigável e genuino destes dias. Saimos daqui com a consciência de poder escapar à prisão do medo, aquele medo que muitos dos nossos concidadãos têm perante o futuro do mundo, marcado por inúmeros conflitos e cheio de agressividade. A oração de hoje, e o facto de estamos aqui, confirmam de que já não estamos sós perante o futuro, e que não encarar o futuro sozinhos. A solidão, condição tão frequente do nosso tempo, leva consigo um fardo de pessimismo, torna as pessoas agressivas, cria o receio de encontrar o outro. Não estamos sozinhos. As religiões por si são comunidades de mulheres e homens, conforme o antigo e debatido étimo latino de religião: ligar, recolher, escolher. Hoje vemos comunidades religiosas apertadas num laço fraterno, desamarradas de antigas contraposições ou de novas seduções que incitam a se combater. Já não uma contra a outra, mas sim juntas, a caminho do futuro: sem medo, porque o estar juntos, o dirigir-se a Deus, a oração, abrem os corações a um caminho de paz. Pela amizade, porque a amizade è um critério de vida. A amizade faz viver as pessoas, as religiões, e também os povos.
 
Dias como estes em Bolonha reforçam a convicção de que o diálogo – em maneiras diferentes – è o estilo intimo de muitos mundos religiosos, queria dizer um elemento que destaca a sua identidade: enquanto brota do profundo da criação e da consciência da fé, se expõe na construção de pontes rumo aos outros. Este mundo, onde demasiadas pontes desmoronaram o foram destruídas, e onde pouco se investe na sua construção, deve partir novamente do diálogo. O diálogo è a chave da sobrevivência da terra, enquanto muita gente aposta na guerra como sistema cirúrgíco e higienizado para se eliminar o mal do mundo. O diálogo é o coração da paz. E as religiões são chamadas a lançar em todas as terras redes de diálogo e de encontro que, pela oração, protegerão o mundo das tentações da guerra e do mal.
 
De Bolonha, cidade de cultura, cidade hospitaleira que acolhe pessoas diferentes e muitos estudantes, a partir dos diálogos destes dias brota com força uma exigência, partilhada por muitas pessoas em muitas terras, isto é: que nasça, cresça, e se desenvolve um movimento de corações, de pensamentos, de vontades, de culturas pela paz! Algo novo e antigo ao mesmo tempo! Caros amigos, este não è apenas um bonito encontro de paz entre nós, este è um movimento de paz que cresce e que se desenvolve no mundo!
 
Paz quer dizer viver juntos; recusar a linguagem agressiva; dizer não à guerra. Este anseio por um movimento de paz brota do profundo das religiões, e é algo novo na história. É também uma resposta às guerras ainda em curso, cuja conclusão é urgida pelo grito dos inúmeros que sofrem. Está-se a desenvolver um movimento de paz, inspirado pelas religiões, que não se resigna à guerra, que não se habitua à dor de muitos. Tenaz, como uma oração incansável.
 
A exigência de uma cultura de paz, e de uma rede de paz capaz de abraçar o mundo, não é algo extemporâneo (e nas palestras aqui tivemos uma prova profunda disso). Nos povos, talvez nas profundezas das consciências, há uma vontade de bem, que às vezes não encontra caminhos para se expressar. As mulheres e os homens de religião deverão mostrar de que não é inútel bater às portas, pedir, protestar, invocar, porque a paz é sempre possível. Os povos não são duros ou máus, o seu destino não é o choque, todavia é preciso acompanhá-los, pelo amor e pela confiança, construindo pontes. Ficamos demasiadamente resignados, na convicção de que não existem energias boas no coração dos povos. Não é assim, existem: é preciso chamá-las a sair à luz, são uma força profunda embora escondida. 
 
Nós temos um ideal, simples e decisivo, o espírito de Assisi. O Papa Francisco expressou-o, ao dizer: “viver a comum paixão pelo crescimento da convivência pacífica entre todos os povos da terra”.
 
A missão das religiões é fazer conhecer o amor que propaga luz e vida, que reestabelece a vontade de paz, de hospitalidade, de bem. Não sejamos pessimistas. Existem energias humanas e espirituais para um mundo melhor. Para vencer a guerra. Para se realizar um mundo mais fraterno. Para fazer crescer a amizade. As religiões recordam isto tudo a uma humanidade espantada e esquecida. As religiões, junto de todos os homens e as mulheres de boa vontade, testemunham de que a paz é sempre possível. Esta é uma convicção forte e uma grande esperança pela qual olhar também para os horizontes escuros e belicosos. A paz é sempre possível. É preciso buscá-la, sem medo. Também, Deus não abandona o mundo ao mal e à lógica da violência, mas sim vem em socorro da nossa oração, e multiplica os nossos esforços de paz. Continuemos a viver com alegria este movimento mundial pela paz.